terça-feira, 3 de dezembro de 2013

IMPRESSÕES DE CLÉIA ALVES SOBRE O SEGUNDO INTERCÂMBIO CULTURAL MANAUS-MARSELHA/FRANÇA 2013.

Falar de mim, do que sou, das minhas raízes e não ser estrangeira no meu próprio país é o que me move e o que nos moveu, a mim e Francis Baiardi a sair de nosso lugar,da cidade de Manaus do Estado do Amazonas e Brasil para compartilhar nossas ideias, pensamentos pesquisas e criações artísticas do outro lado do Oceano Atlântico para estar em Marselha na França.


Dar continuidade ao intercâmbio cultural que a cada passo se concretiza para a Contem Dança Cia, FACCI e para a Cie Le Rêve de La Soie, se faz importante para que possamos  conhecer e entender culturas e modos de vida diferentes.

Ao realizar a palestra e a oficina com temática das danças de matrizes negras no Amazonas para os Marselhenses e participantes de outros países percebi que ainda ocorre uma visão romântica sobre o modo de vida dos brasileiros, apesar de encontrar pessoas que se interessam e procuram saber um pouco mais de nossa cultura, mas em sua maioria a visão ainda é restrita.

A visão sobre o racismo e a discriminação no Brasil é tido como algo inexistente, por saber que existe carnaval e futebol, somos conhecidos como um  povo muito alegre e hospitaleiro e portanto convivemos harmoniosamente sabendo lidar com a diversidade.

A palestra mostrou que existe o racismo e a discriminação e que é preciso retirar este “manto” que cobre e tenta camuflar esse fato e esta parte da nossa história de tragédias, descaso, preconceitos, injustiças e dor como diz Roberto Maringoni: “É uma chaga que o Brasil carrega até os dias de hoje”.

Isso não se pode deixar esquecer e como militante do movimento negro e educadora me sinto no papel de falar sobre esses assuntos aqui no Brasil e no exterior.

Mas também falei do legado e da importância que os negros nos deixaram e da beleza e do orgulho de se afirmar como negro no Brasil nos dias de hoje.

Francis Baiardi teve o papel de falar do índio de ontem e de hoje em seu espetáculo solo Dinahí.

Falar da importância da manutenção das lendas e mitos para a nossa cultura e de como o indígena vive e tenta manter-se nos dias de hoje não é tarefa fácil para nós artistas, pois requer cuidado e muito sensibilidade na obra artística, porém Francis Baiardi soube lindamente tratar deste assunto complexo.

O espetáculo Dinahí é um trabalho de dança muito cuidadoso que aborda questões sociais e culturais, e que trata também da nossa contemporaneidade de como vemos e lidamos com o indígena no Brasil, da afirmação da origem indígena no sangue e do legado desses povos para todos nós.

A viagem para Marselha me fez perceber que somos mais reconhecidas e valorizadas como amazonenses e brasileiras fora do Brasil. Temos conhecimentos, ideias e portas abertas para compartilhar, no entanto nossos pares aqui em Manaus não querem somar, ao contrário da estada em Marselha que todos queriam saber e trocar conhecimentos, isso realmente é uma tristeza, mas seguimos na luta! Como diz o amigo artista Marcos Tubarão.

Penso que nosso objetivo foi alcançado quando relembro das conversas com os artistas e amigos que conquistamos nesta viagem, quando falamos das questões do índio e do negro no Brasil e de como a arte tem o poder de comunicar de informar, fazer refletir, analisar, também tocar os corações e ainda mais profundamente a alma.

Só tenho a agradecer ao amigo e grande incentivador disso tudo Patrick Servius que se mostra um artista e uma pessoa muito sensível, que busca sempre fazer esta ponte no intercâmbio que procura motivar e sensibilizar aos outros seus pares para a busca do entendimento do outro.

Meus agradecimentos especiais para Patrick Servius, Véronique Larcher, Beth Rigaud, Patricia Guannel, Elsa Wolliaston, Kenjah, Juciara, Regina e Juruna.

Desejo vida longa a nosso Intercâmbio Cultural e que outros países venham participar deste também.
 
 
 
 

 

 
 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CONSCIÊNCIA NEGRA EM MANAUS E MARSELHA-FRANÇA.

        SAIU   NO JORNAL  A  CRÍTICA NO DIA 19  DE     
                          NOVEMBRO  DE 2013

SOBRE O INTERCÂMBIO CULTURAL MANAUS – MARSELHA-FRANÇA NO MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA.


A Contem Dança Cia e FACCI-Centro de Investigação em Arte e Cultura Afroameríndia esteve na cidade de Marselha-França realizando o segundo intercâmbio cultural Manaus-Marselha/França, uma parceria com a Cie Le Rêve de La Soie, do dia 17 a 26 de novembro de 2013.
A Contem Dança Cia foi representada pela diretora, coreógrafa e intérprete-criadora Francis Baiardi onde ministrou uma oficina de dança contemporânea no Grenier du Corps, nos dias 19,20 e 21 e no dia 23 neste mesmo espaço apresentou o espetáculo solo “Dinahí” interpretado por Francis Baiardi com a colaboração de Cléia Alves. No dia 25 de novembro no Théâtre De Cuisine Francis Baiardi  apresentou o mesmo espetáculo com bate papo após a apresentação.
No dia 22 de novembro foi ministrada no Studio Décanis sob a coordenação e produção de Beth Rigaud e produção da Cie Le Rêve de La Soie-Marselha e Contem Dança Cia-Manaus, a palestra: Danças de Matrizes Negras no Amazonas: Trajetória em Movimento  às 18h30min e às 19h15min a oficina: Danças de Matrizes Negras no Amazonas-Brasil  com Cléia  Alves representando o FACCI-Centro de Investigação em Arte e Cultura Afroameríndia do Amazonas.
A palestra e oficina de matrizes negras faz parte da programação do FACCI  que propõem em seu calendário realizar eventos, encontros,  intercâmbios e seminários no  mês da Consciência Negra  que tem o dia 20 de novembro como o dia representativo da luta e morte de Zumbi dos Palmares no Brasil. Esta data foi estabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
O FACCI foi contemplado com o Programa de Apoio às Artes-Proarte 2011 com a pesquisa  Danças Contemporâneas com Matrizes Afro-Brasileiras em Manaus - Amazonas (1988 a 2008) tendo a frente da pesquisa a artista, pesquisadora e professora Cléia Alves e em parceria com a Contem Dança Cia foi contemplado também o espetáculo de dança contemporânea Dinahí com temática indígena. Esta palestra e a  oficina fazem parte da contrapartida do prêmio Proarte-2011.
Sobre a metodologia da palestra e oficina:
A palestra complementou a oficina e vice-versa e as danças populares de matrizes negras escolhidas foram: o Boi-Bumbá, Gambá, Tambor de Crioula, Maracatu, samba de roda, frevo e capoeira.
Em Marselha no Studio Décanis, primeiro aconteceu a palestra que é a parte teórica, onde foi falado um pouco da história de como essas danças surgem no Brasil, depois como elas vieram para o Amazonas e como elas se encontram hoje, logo em seguida veio a parte prática com as danças abordadas.
O Centro de Investigação em parceria com a Contem Dança Cia vem realizando na cidade de Manaus,no interior do Amazonas e na França apresentações,residências artísticas, palestras e oficinas.
Sobre o FACCI-Centro de Investigação em Arte e Cultura Afroameríndia
Idealizado e coordenado pelas artistas, pesquisadoras e professoras Amanda  Pinto, Cléia Alves e Francis Baiardi o FACCI é um centro de investigação em arte e cultura que tem como objetivo discutir,criar, produzir e pesquisar assuntos amazônicos, com foco na cultura afroameríndia.Tem como metodologia a relação com outras linguagens artísticas, culminando em produções literárias, audiovisuais e artísticas.

 
 
Sobre a Contem Dança Cia
“Contem Dança Cia”, antes UM Companhia de Dança, criada em 2006, pela intérprete-criadora Francis Baiardi, premiada pela FUNARTE e SEC, desenvolve em sua pesquisa a compreensão do corpo que discute e escreve a arte do movimento, estimulando a reflexão acerca da dança e seus processos de criação, e como objetivo investigar a dança e as outras linguagens artísticas em relação à realidade sociocultural na atualidade. A Contem Dança a companhia busca expressar-se através da pesquisa do que seja a arte contemporânea, “falar” com a sua identidade própria e artística, trabalhando sob um olhar crítico, criativo e construtivo da arte do movimento da dança, promovendo, estimulando e trocando experiências artísticas dentro e fora da Cia. Atualmente trabalha com 10 (dez) profissionais entre eles intérpretes, professores, consultor artístico e produtor, e tem como parceria a Universidade do Estado do Amazonas-UEA.

 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

FOTOS DE DINAHÍ EM PRESIDENTE FIGUEIREDO

O FACCI em parceria com a Contem Dança Cia apresentaram o espetáculo Dinahí em contrapartida do Prêmio Proarte 2011 no dia 19 de julho de 2013 às 19 horas  no Auditório do IFAM em Presidente Figueiredo-AM com entrada franca.



Confira mais em:
http://www.flickr.com/photos/alvescleia/sets/72157634749871876/

FOLDER DINAHÍ



CIAS DE DANÇA REALIZAM APRESENTAÇÕES NO INTERIOR DO AMAZONAS.


Companhias de dança manauenses realizam intercâmbio cultural

'Contem Dança Cia' e o 'FACCI - Centro de Investigação em Arte e Cultura', após apresentações em municípios partem para França

 
MANAUS - As companhias de arte 'Contem Dança Cia' e o 'FACCI - Centro de Investigação em Arte e Cultura' realizarão apresentações de dança contemporânea. Os espetáculos 'T(EU) Olhar' e 'Dinahí' serão apresentados em Presidente Figueiredo (município distante de Manaus cerca de 107 km), dias 19 e 20 de julho. A duas companhias foram contempladas com o Programa de Apoio às Artes (Proarte) em 2011.
Companhias levarão arte para interior e exterior. Foto: Rafael LinsCompanhias levarão arte para interior e exterior. Foto: Rafael Lins





O objetivo do intercâmbio cultural entre os dois municípios é promover a divulgação das atividades das companhias artísticas e reunir simpatizantes da cultura. Serão oferecidas também, oficinas de ballet clássico, jazz e dança contemporânea para os moradores de Presidente Figueiredo.
No dia 29 de julho, as companhias viajarão para Marselha, na França, onde farão residência artística, apresentações de dança, palestras e oficinas de capoeira e dança.
Espetáculos
Dirigidos pela diretora Francis Baiadi, 'T(EU) Olhar' retrata, em favor de um olhar mais sensível, a busca por entender, sentir, perceber e observar a relação do eu – corpo, em certas situações, oprimidos. Assim, a obra contribuirá para o crescimento artístico, social e cultural dos espectadores e artistas. Já “Dinahí”, é um espetáculo solo que possibilitará a construção e a reflexão sobre a identidade cultural dos povos indígenas. Utiliza como inspiração a Lenda da Mãe D’Água-Dinahí e é relacionado com a mulher atual em diferentes tempos e em diferentes lugares.
Sobre as companhias
Fundada pela artista e pesquisadora Francis Baiardi, a Contem Dança tem o objetivo de investigar a dança e expressar, através da arte contemporânea, a sua identidade artística, para promover então o estimulo e troca de experiências dentro e fora da companhia. O FACCI - Centro de Investigação em Arte e Cultura é uma idealização das pesquisadoras e artistas Amanda Pinto, Cléia Alves e Francis Baiardi, que juntas perceberam a necessidade de criar um centro de pesquisas que abordassem a cultura afro, ameríndia e afro-ameríndia, em Manaus. Concentra pesquisas de estudos do corpo, na arte em suas possibilidades estéticas e as relações sociais que ele pode discutir. Os processos de criação também são refletidos, a partir da dança contemporânea.

Disponível em:
http://www.portalamazonia.com/noticias/arte/20130717/companhias-danca-manauenses-realizam-intercambio-cultural/747.shtml

terça-feira, 18 de junho de 2013

PROJETO DINAHÍ


A FACCI apresenta o projeto do espetáculo de dança “Dinahí” para 2013.
 
Dinahí é um espetáculo que possibilitará a construção e a reflexão sobre a identitária cultural dos povos indígenas, utilizando como objeto de inspiração a Lenda da Mãe D’Água Dinahí, relacionando-a com a mulher atual, em diferentes tempos e em diferentes lugares, sempre variando conforme a sua necessidade, transitando entre os universos das tradições indígenas e contemporânea.
 
O espetáculo Dinahí, visa mostrar através da dança contemporânea o universo da cultura indígena, fazendo um paralelo com a mulher da sociedade moderna.
 
 
Sobre a lenda Dinahí
Mãe-D'água
A Mãe-d'água é a sereia das águas amazônicas. Dotada de indescritível beleza e canto maravilhoso, a Mãe-d'água encanta os pescadores que passam muito tempo sozinhos a navegar. Muitos deles não resistem ao seu delicioso canto e à sua beleza estonteante. Esses são levados pela visagem para morar com ela nas profundezas das águas onde desaparecem. A maioria nunca mais volta para suas famílias. A Mãe-d'água habita as águas doces. Rios e igarapés são os seus domínios. Por isso, quem sai para pescar em horas mortas pode incomodar a mãe d'água que facilmente se melindra e encanta o invasor castigando-o com uma febre alta que nenhum médico dará jeito. A cultura indígena trás algumas versões para a origem da lenda. Uma delas refere-se à história de uma índia chamada Dinahí, que impressionava a todos da tribo dos Manau por sua coragem. A índia era mais valente do que muitos homens da tribo. Isso começou a causar inveja entre os guerreiros da tribo, que passaram a persegui-la de todas as formas. Numa noite, dois irmãos de Dinahí tentaram matá-la durante o sono, mas não conseguiram porque a índia tinha a audição mais aguçada do que um felino. Dinahí acordou e para se defender acabou  matando os irmãos. Com medo da fúria de seu pai, o velho Kaúna, a índia fugiu. Kaúna saiu na noite a perseguir Dinahí que durante várias luas conseguiu escapar. Mas sozinha e cercada pelos guerreiros de seu pai acabou sendo capturada. Kaúna ordenou que a filha fosse jogada nas águas, exatamente no encontro dos rios Negro e Solimões. Nessa hora, centenas de peixes vieram em socorro da índia guerreira e sustentaram seu corpo trazendo-o até a superfície. Os raios do luar tocaram a face de Dinahí e a fizeram se tornar uma bela princesa, com cauda de peixe e de cabelos tão escuros quanto as águas do rio Negro. A índia guerreira se tornou a Mãe-d'água, representação da beleza e coragem da mulher da Amazônia.


Fotos: Cléia Alves
 

 




 

 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A ARTE E A AMAZÔNIA


O Amazonas é palco da grande e singular expressão natural do planeta: a selva e a vida indígena. Neste cenário, apresentam-se as lendas amazônicas, as quais são a poesia, a representação, a experiência mais vibrante e viva que nossa região poderia ter. Há quem diga que lendas são estórias frutos da imaginação das pessoas que as criaram, de cunho popular passadas via oral de geração em geração, ou seja, que não existem de fato. E o que é existir? Será que só aquilo que é real? E o que é real? Real, segundo alguns estudiosos, como Humberto Maturana (neurobiólogo) é tudo aquilo que existe para nós, nossa noção de realidade não distingue entre o que é somente uma experiência e o real! E se é experiência na vida, no imaginário desses povos, então as lendas são reais. E a realidade, a cultura indígena é a riqueza dessa terra. O que será a lenda do Boto Rosa (Vermelho) se não o homem que se aproxima das “ninfetas” para delas se aproveitar carinhosamente? Quem é aquela que sonha em ser alguém “sobrenatural” e faz tudo para alcançar tal sonho se não a metáfora da Vitória-Régia? E aquele que disputa seus perseguidores, deixando o rastro dos pés para a direção inversa? Que mulher é essa guerreira, sedutora, inteligente, perspicaz, frágil e serena se não nós nesse mundo simbolizadas por Dinahí? Essas lendas não são somente estórias. Elas são o reflexo e a maior expressão da nossa vivência (vida amazônica). Expressão essa que chamamos de arte, mesmo que não seja intencional, mas perpassa pelo mesmo processo metafórico/linguístico.

Sendo uma experiência metafórica/linguística somos nós que a vivenciamos. O corpo está presente e se apropria da linguagem da dança para viver essas estórias lendárias concomitantemente. Digo concomitantemente, pois nos moldes do trabalho artístico da FACCI, não há uma representação da lenda, mas uma expressão que vive junto com tal realidade, que transpõe para a vida do artista tal estória. Sendo esta estória realidade e transposta à vida, mesmo do não indígena, não nos colocamos no campo da representação, mas da expressão da vida (do dia-a-dia) amazônico.

 
Amanda Pinto
Mestre em Dança pela Universidade Federal da Bahia-UFBA