quinta-feira, 9 de maio de 2013

A ARTE E A AMAZÔNIA


O Amazonas é palco da grande e singular expressão natural do planeta: a selva e a vida indígena. Neste cenário, apresentam-se as lendas amazônicas, as quais são a poesia, a representação, a experiência mais vibrante e viva que nossa região poderia ter. Há quem diga que lendas são estórias frutos da imaginação das pessoas que as criaram, de cunho popular passadas via oral de geração em geração, ou seja, que não existem de fato. E o que é existir? Será que só aquilo que é real? E o que é real? Real, segundo alguns estudiosos, como Humberto Maturana (neurobiólogo) é tudo aquilo que existe para nós, nossa noção de realidade não distingue entre o que é somente uma experiência e o real! E se é experiência na vida, no imaginário desses povos, então as lendas são reais. E a realidade, a cultura indígena é a riqueza dessa terra. O que será a lenda do Boto Rosa (Vermelho) se não o homem que se aproxima das “ninfetas” para delas se aproveitar carinhosamente? Quem é aquela que sonha em ser alguém “sobrenatural” e faz tudo para alcançar tal sonho se não a metáfora da Vitória-Régia? E aquele que disputa seus perseguidores, deixando o rastro dos pés para a direção inversa? Que mulher é essa guerreira, sedutora, inteligente, perspicaz, frágil e serena se não nós nesse mundo simbolizadas por Dinahí? Essas lendas não são somente estórias. Elas são o reflexo e a maior expressão da nossa vivência (vida amazônica). Expressão essa que chamamos de arte, mesmo que não seja intencional, mas perpassa pelo mesmo processo metafórico/linguístico.

Sendo uma experiência metafórica/linguística somos nós que a vivenciamos. O corpo está presente e se apropria da linguagem da dança para viver essas estórias lendárias concomitantemente. Digo concomitantemente, pois nos moldes do trabalho artístico da FACCI, não há uma representação da lenda, mas uma expressão que vive junto com tal realidade, que transpõe para a vida do artista tal estória. Sendo esta estória realidade e transposta à vida, mesmo do não indígena, não nos colocamos no campo da representação, mas da expressão da vida (do dia-a-dia) amazônico.

 
Amanda Pinto
Mestre em Dança pela Universidade Federal da Bahia-UFBA