Dar continuidade ao
intercâmbio cultural que a cada passo se concretiza para a Contem Dança Cia, FACCI
e para a Cie Le Rêve de La Soie, se faz importante para que possamos conhecer e entender culturas e modos de vida
diferentes.
Ao realizar a
palestra e a oficina com temática das danças de matrizes negras no Amazonas para
os Marselhenses e participantes de outros países percebi que ainda ocorre uma
visão romântica sobre o modo de vida dos brasileiros, apesar de encontrar
pessoas que se interessam e procuram saber um pouco mais de nossa cultura, mas
em sua maioria a visão ainda é restrita.
A visão sobre o racismo
e a discriminação no Brasil é tido como algo inexistente, por saber que existe
carnaval e futebol, somos conhecidos como um povo muito alegre e hospitaleiro e portanto
convivemos harmoniosamente sabendo lidar com a diversidade.
A palestra mostrou
que existe o racismo e a discriminação e que é preciso retirar este “manto” que
cobre e tenta camuflar esse fato e esta parte da nossa história de tragédias, descaso, preconceitos, injustiças
e dor como diz Roberto Maringoni: “É uma chaga que o Brasil carrega até os dias
de hoje”.
Isso não se pode deixar esquecer e como militante do movimento negro e
educadora me sinto no papel de falar sobre esses assuntos aqui no Brasil e no
exterior.
Mas também falei do legado e da importância que os negros nos deixaram e
da beleza e do orgulho de se afirmar como negro no Brasil nos dias de hoje.
Francis Baiardi teve o papel de falar do índio de ontem e de hoje em seu
espetáculo solo Dinahí.
Falar da importância da manutenção das lendas e mitos para a nossa
cultura e de como o indígena vive e tenta manter-se nos dias de hoje não é
tarefa fácil para nós artistas, pois requer cuidado e muito sensibilidade na
obra artística, porém Francis Baiardi soube lindamente tratar deste assunto
complexo.
O espetáculo Dinahí é um trabalho de dança muito cuidadoso que aborda
questões sociais e culturais, e que trata também da nossa contemporaneidade de
como vemos e lidamos com o indígena no Brasil, da afirmação da origem indígena
no sangue e do legado desses povos para todos nós.
A viagem para Marselha me fez perceber que somos mais reconhecidas e
valorizadas como amazonenses e brasileiras fora do Brasil. Temos conhecimentos,
ideias e portas abertas para compartilhar, no entanto nossos pares aqui em
Manaus não querem somar, ao contrário da estada em Marselha que todos queriam
saber e trocar conhecimentos, isso realmente é uma tristeza, mas seguimos na luta!
Como diz o amigo artista Marcos Tubarão.
Penso que nosso objetivo foi alcançado quando relembro das conversas com
os artistas e amigos que conquistamos nesta viagem, quando falamos das questões
do índio e do negro no Brasil e de como a arte tem o poder de comunicar de
informar, fazer refletir, analisar, também tocar os corações e ainda mais
profundamente a alma.
Só tenho a agradecer ao amigo e grande incentivador disso tudo Patrick Servius
que se mostra um artista e uma pessoa muito sensível, que busca sempre fazer
esta ponte no intercâmbio que procura motivar e sensibilizar aos outros seus
pares para a busca do entendimento do outro.
Meus agradecimentos especiais para Patrick Servius, Véronique
Larcher, Beth Rigaud, Patricia Guannel, Elsa Wolliaston, Kenjah, Juciara,
Regina e Juruna.
Desejo vida longa a nosso Intercâmbio Cultural e que outros países venham
participar deste também.
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