terça-feira, 18 de junho de 2013

PROJETO DINAHÍ


A FACCI apresenta o projeto do espetáculo de dança “Dinahí” para 2013.
 
Dinahí é um espetáculo que possibilitará a construção e a reflexão sobre a identitária cultural dos povos indígenas, utilizando como objeto de inspiração a Lenda da Mãe D’Água Dinahí, relacionando-a com a mulher atual, em diferentes tempos e em diferentes lugares, sempre variando conforme a sua necessidade, transitando entre os universos das tradições indígenas e contemporânea.
 
O espetáculo Dinahí, visa mostrar através da dança contemporânea o universo da cultura indígena, fazendo um paralelo com a mulher da sociedade moderna.
 
 
Sobre a lenda Dinahí
Mãe-D'água
A Mãe-d'água é a sereia das águas amazônicas. Dotada de indescritível beleza e canto maravilhoso, a Mãe-d'água encanta os pescadores que passam muito tempo sozinhos a navegar. Muitos deles não resistem ao seu delicioso canto e à sua beleza estonteante. Esses são levados pela visagem para morar com ela nas profundezas das águas onde desaparecem. A maioria nunca mais volta para suas famílias. A Mãe-d'água habita as águas doces. Rios e igarapés são os seus domínios. Por isso, quem sai para pescar em horas mortas pode incomodar a mãe d'água que facilmente se melindra e encanta o invasor castigando-o com uma febre alta que nenhum médico dará jeito. A cultura indígena trás algumas versões para a origem da lenda. Uma delas refere-se à história de uma índia chamada Dinahí, que impressionava a todos da tribo dos Manau por sua coragem. A índia era mais valente do que muitos homens da tribo. Isso começou a causar inveja entre os guerreiros da tribo, que passaram a persegui-la de todas as formas. Numa noite, dois irmãos de Dinahí tentaram matá-la durante o sono, mas não conseguiram porque a índia tinha a audição mais aguçada do que um felino. Dinahí acordou e para se defender acabou  matando os irmãos. Com medo da fúria de seu pai, o velho Kaúna, a índia fugiu. Kaúna saiu na noite a perseguir Dinahí que durante várias luas conseguiu escapar. Mas sozinha e cercada pelos guerreiros de seu pai acabou sendo capturada. Kaúna ordenou que a filha fosse jogada nas águas, exatamente no encontro dos rios Negro e Solimões. Nessa hora, centenas de peixes vieram em socorro da índia guerreira e sustentaram seu corpo trazendo-o até a superfície. Os raios do luar tocaram a face de Dinahí e a fizeram se tornar uma bela princesa, com cauda de peixe e de cabelos tão escuros quanto as águas do rio Negro. A índia guerreira se tornou a Mãe-d'água, representação da beleza e coragem da mulher da Amazônia.


Fotos: Cléia Alves
 

 




 

 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A ARTE E A AMAZÔNIA


O Amazonas é palco da grande e singular expressão natural do planeta: a selva e a vida indígena. Neste cenário, apresentam-se as lendas amazônicas, as quais são a poesia, a representação, a experiência mais vibrante e viva que nossa região poderia ter. Há quem diga que lendas são estórias frutos da imaginação das pessoas que as criaram, de cunho popular passadas via oral de geração em geração, ou seja, que não existem de fato. E o que é existir? Será que só aquilo que é real? E o que é real? Real, segundo alguns estudiosos, como Humberto Maturana (neurobiólogo) é tudo aquilo que existe para nós, nossa noção de realidade não distingue entre o que é somente uma experiência e o real! E se é experiência na vida, no imaginário desses povos, então as lendas são reais. E a realidade, a cultura indígena é a riqueza dessa terra. O que será a lenda do Boto Rosa (Vermelho) se não o homem que se aproxima das “ninfetas” para delas se aproveitar carinhosamente? Quem é aquela que sonha em ser alguém “sobrenatural” e faz tudo para alcançar tal sonho se não a metáfora da Vitória-Régia? E aquele que disputa seus perseguidores, deixando o rastro dos pés para a direção inversa? Que mulher é essa guerreira, sedutora, inteligente, perspicaz, frágil e serena se não nós nesse mundo simbolizadas por Dinahí? Essas lendas não são somente estórias. Elas são o reflexo e a maior expressão da nossa vivência (vida amazônica). Expressão essa que chamamos de arte, mesmo que não seja intencional, mas perpassa pelo mesmo processo metafórico/linguístico.

Sendo uma experiência metafórica/linguística somos nós que a vivenciamos. O corpo está presente e se apropria da linguagem da dança para viver essas estórias lendárias concomitantemente. Digo concomitantemente, pois nos moldes do trabalho artístico da FACCI, não há uma representação da lenda, mas uma expressão que vive junto com tal realidade, que transpõe para a vida do artista tal estória. Sendo esta estória realidade e transposta à vida, mesmo do não indígena, não nos colocamos no campo da representação, mas da expressão da vida (do dia-a-dia) amazônico.

 
Amanda Pinto
Mestre em Dança pela Universidade Federal da Bahia-UFBA